No Brasil, histórias de pessoas que superam condições extremas de pobreza para alcançar o sucesso são frequentemente exaltadas pela mídia e pela sociedade. A trajetória de indivíduos que vencem barreiras imensas se torna exemplo de “força de vontade” “resiliência”. Todavia, esse discurso infelizmente[ mente] e contribui para ocultar um problema profundo: a normalização da miséria e desresponsabiliza o estado e as elites pela desigualdade estrutural.
Estou farto da supervalorização da luta. Embora seja inspirador ver alguém que saiu da periferia e conquistou um diploma universitário ou um cargo elevado, transformar essas histórias em regra reforça a ideia de que a pobreza pode ser superada apenas com esforço individual. Essa visão ignora as barreiras enfrentadas pela maioria da população em situação de vulnerabilidade, como falta de acesso à educação, saúde e oportunidade de emprego minimamente digno.
Um dos principais problemas da romantização da miséria é o discurso de meritocracia fora de contexto. Frases como “quem quer, consegue” ou ” basta ter força de vontade” desconsideram as barreiras sociais, raciais e econômicas que tornam a ascensão social uma exceção, e não a regra. ademais, esse tipo de pensamento gera culpabilização das classes pobres, como se a sua condição fosse resultado de preguiça ou falta de ambição. A elite nacional usa inúmeros eufemismos para romantizar a pobreza como parte da identidade cultural. O ” jeitinho brasileiro” ” alegria apesar das dificuldades” são frequentemente usados para mascarar a falta de politicas públicas voltadas para redução da desigualdade abissal que existe no Brasil.
Para desconstruir essa visão, é necessário investir em politicas públicas que reduzam a desigualdade e garantam dignidade a população. Isso inclui melhorias na educação, geração de empregos formais, ampliação do acesso à saúde e políticas de habitação. Além disso, a mídia e a sociedade precisam mudar a forma como abordam as histórias de superação, reconhecendo que é uma quantidade mínima de pessoas de origem pobre que conseguem uma condição de vida melhor. É preciso deixar claro que a superação da miséria não está na exaltação de que consegue escapar dela, mas na construção de um país onde ninguém precise lutar diariamente para sobreviver.
Portanto, é fundamental que a sociedade comece a ver a pobreza não como algo que pode ser superado por um esforço individual, mas como uma questão política, social e econômica que exige a ação coletiva e o comprometimento de todos para criar uma sociedade verdadeiramente igualitária. Só assim, o Brasil poderá deixar para trás a romantização da miséria e construir um futuro onde a dignidade esteja ao alcance de todos.